domingo, 24 de março de 2013

Rosário para Orunmilá


Na busca da disseminação do conhecimento não classificado como “Awo” (o mistério que só pode ser revelado aos iniciados), a razão de confeccionarmos aquilo que muitos chamam de o “Terço ou Rosário dos Òrìsà. Elaborado a partir de Ikó e de determinadas partes dos Eranko ofertados aos Orixás, surgiu por conta da prova de amor de Ejiogbe pelo seu Pai Orunmilá.

Uma antiga história Nàgó conta que Orunmilá estava em dúvidas de qual filho ele escolheria para ser o primeiro a lhe representar no seu oráculo sagrado. Orunmilá chamou todos os seus filhos e disse: “Vocês irão me representar em uma festa que haverá no palácio do Oni (Rei de Ifé). Cada um de vocês terá que provar que durante a festa estavam se lembrando de mim, mostrando que são meus filhos e que me amam verdadeiramente”.
Todos os irmãos caminharam durante 7 dias rumo à Ifé, para a grande festa. Ejiogbe era o mais desprezado dos irmãos e logo no inicio foi deixado de lado. Todos os demais irmãos caminharam rapidamente para chegar brevemente a Ifé.
No dia da grande festa, os irmãos de Ejiogbe já estavam lá, comendo e bebendo de um tudo, do bom e do melhor, sem sequer lembrar do seu Pai. Ejiogbe chegou ao final da festa, muito cansado e com fome por conta da viagem longa que fez.
Quando seus irmãos viram que ele estava lá, trataram de lhe dar às costas, ignorando-o. Ejiogbe se apresentou ao Oni, dizendo que era o filho de Orunmilá e que estava ali para lhe representar. O Oni disse que era um prazer receber o filho do Testemunha do Destino. Faminto, Ejiogbe foi à mesa para comer algo, no entanto, por ser o final da festa, só encontrou ossos, patas, asas e cabeça.
Ejiogbe comeu um pouco e pegou o restante, colocando em um saco de pano que trazia consigo. No caminho de volta à casa de Orunmilá, todos os irmãos começaram a maltratar Ejiogbe, dizendo que ele era vergonha de Orunmilá e que ainda por cima, estava carregando um saco com restos de comidas. Ao longo dois dias, o cheiro provindo do saco ficava mais forte e, novamente, os irmãos de Ejiogbe largou ele sozinho.
Quando os irmãos de Ejiogbe chegaram à Casa de Orunmilá eles foram logo dizendo que a festa estava muito boa. Ejioko disse que havia mostrado a todos suas habilidades, Ogundameji também, Osá, Okanran e todos seguidamente falaram suas histórias, todas enaltecendo a si mesmo.
Orunmilá então disse como vocês me provam que se lembraram de mim? Todos se entreolharam e ficaram mudos. Nesse tempo, chegou Ejiogbe que foi logo indagado por Orunmilá. E você Ejiogbe, o que fez na festa?
Ejiogbe ajoelhou-se diante de Orunmilá e lhe disse: Meu Pai, o grande senhor do destino, aquele que senta ao lado de Olodunmare, a sua bênção. A primeira pessoa com quem eu falei foi com o Oni, dizendo que estava lá pra representar o grande Orunmilá. Quando fui comer, a comida já havia acabado, mas mesmo assim, lhe trouxe esses ossos, para provar ao senhor que, mesmo quando estava com fome, jamais deixei de pensar no senhor. Quando Ejiogbe abriu o saco, estavam alguns ossos selecionados por Ejiogbe, cuidadosamente amarrados com o Iko (a palha da costa).
Orunmilá pegou aquela espécie de terço e pendurou em uma árvore na frente de sua Casa e disse: Todos que passarem por aqui, saberão que Ejiogbe foi o único que se lembrou do seu Pai, mesmo quando estava com fome. A partir de hoje, quando as pessoas desejarem saber aquilo que eu tenho para falar, louvaram primeiramente Ejiogbe e, a partir de hoje, sempre que haver uma oferenda dos Eranko que Ejiogbe me trouxe os ossos, os iniciados na religião dos Òrìsàs deverão pegar esses mesmos ossos e confeccioná-los da mesma forma que Ejiogbe o fez, lembrando dessa passagem.
As casas tradicionais Ketu/nagô mantém esse ritual, que comumente chamamos de terço ou rosário dos Orixás, deixando-os pendurados no tempo no terreiro em lugar seguro em respeito a Orunmilá, mantendo a tradição litúrgica.

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