terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Chamo de Guardião da Luz,

   












Um Guardião da Luz não é um ser perfeito...não foi transmutado na Luz que o guia, ele é um humilde servo dela...
O Guardião da Luz tropeça...e cai, e se machuca. Mas algo o consome e ele precisa levantar. E levanta!
Equivoca-se...toma direções contrárias..."bate a cabeça na parede" sim, muitas vezes...mas sua sede por equilíbrio o reorienta.
Tem medo...se esconde, chora, arrepia-se e sente cortante frio nas mãos e pés...e engole em seco, cerra os olhos e se joga. Essa é a mais engraçada característica dessa gente...é um povo que por fim, se joga!
Às vezes foge...retruca, desafia o chamado, mostra as garras, se rebela, argumenta...mas mesmo com raiva, prossegue.
Tem crises de egoísmo...crises de solidão...de carência...por vezes é a pessoa mais solitária do mundo. Pergunta-se por quê? Por que tanto vazio? E lá longe vê a Luz...portanto não enlouquece...e vai.
Sofre com o peso de suas vaidades...como qualquer mortal.
Morde a língua evitando explodir em lanças ferinas...porque sabe o quanto isso é pior que uma droga...vicia. E destrói. Ele sabe...porque caiu nessa. Algumas vezes.
Nunca se sente realmente capaz...nunca é forte o suficiente...por essa razão, se curva aos pés de Deus. E é esse único gesto que nos garante persistir na missão tão sagrada de espalhar o bem. A humildade de reconhecer os próprios limites...sem criar tipos, sem hipocrisias...sem mascarar-se.
O Guardião da Luz mostra a cara.

domingo, 26 de janeiro de 2014

EGUNGUN –





No ritual de Egungun, reside um dos maiores mistérios da cultura e ritualística Yorubana e Dahomeana. O culto ao Egungun, é um culto aos antepassados das pessoas falecidas que eram iniciadas no ritual dos Orixás ou Voduns ou ainda, no próprio ritual de Egun. Este ritual não é uma propriedade africana única. No Japão, existe uma semelhança no culto aos antepassados também, e que é de prática nacional. É tão sério e popular, que consegue manter a nação unida em torno desta prática. A única diferença entre estes dois cultos é que no Japão não existe a materialização dos antepassados, enquanto que na Nigéria, no Togo, Benin e Brasil, estas “aparições” são comuns e visíveis a todos os presentes.


É também comum na Nigéria vê-se os Ojés (sacerdotes de Egungun), provocando estas materializações, quando jogam várias roupas (axós – trajes) de Egungun no chão e minutos após, estas começam a inflar e tomar formatos humanos como se corpos existissem dentro de cada uma delas. Tais fenômenos acontecem em plena luz do dia, na rua e diante dos olhos de todos. O ritual começa no Ojubó (camarinha secreta), com oferendas, local onde as roupas são abençoadas e recheadas dos “axés”(força e poder), do ritual. Posteriormente, é feita a oferenda de um “agutã”(carneiro), sobre o “gbodô (pilão) o qual será levado à praça pública e invertido no chão, ou seja, colocado de cabeça para baixo. Após tais atos o Ologbô (sumo sacerdote de Egun) manda distribuir as roupas de cada Egungun que irá se materializar, no chão separadas a cada três metros. Ato contínuo, começam as cantorias sob o rítimo frenético dos “abados” (abanadores de palha) batidos em bocas de porrões” (grandes vasos de barro com bocas largas), acompanhados por “gans e agogôs” (sinetas de metal). – Tudo isto segue uma ritualística e está rigidamente dentro de uma hierarquia milenar.


Os “cargos” (títulos sacerdotais) estão dentro de uma nominação que assim está determinada em escala ascendente: 1 Ojé – 2 Eiedun – 3 Ojé Lese Egun – 4 Ojé alagbá – 5 Alapini – 6 Alagbá e 7 Ologbô. – O ritual é masculino e só permite a entrada de mulheres que sejam filhas de Oyá (Iasan) Igbalé, Oyá Zagan, Oyá, Messe Egun, Oyá Tolú e Oyá Izô. Existe um cargo intermediário com o nome de “Ojé Lesse Orisá”, que determina uma intermediação entre o Egungun e o “sirê” (toque) de Orisás ligados aos antepassados. Este cargo e ritual fica mais encravado no ritual de Geledê” da raiz Jêje.

Ritual
O ritual é complexo e exige uma iniciação demorada para aqueles que dele querem fazer parte. A Invocação chamada “Zerim” ou “Sirrum” consiste de cantigas ancestrais de louvação a cada Egun Babá e tem como base sonora os potes (porrões) de boca larga, agogôs, cabaças e “oberós” (alquidares) com água. Alguns “ilús” (tambores) também são usados e se diferenciam dos demais por serem cobertos com couro de “agutan” (carneiro). As roupas pertencentes aos Babás (pais) são confeccionadas em lantejoulas, vidrilhos, canutilhos, espelhos, cetim, telas e uma mistura de tecidos variados contrastantes entre si. Estas roupas não têm aberturas e são totalmente fechadas da cabeça (que varia de tamanho e formato), até os pés.
O ritual começa no barracão com as chamadas e as roupas jogadas no chão ou dependendo da “casa”, as roupas ficam dentro do “Ojubó” e à medida que os Babá vão chegando, estas roupas vão inflando e tomando seus formatos humanos(?), andando e falando. É comum ver-se um Babá sentar-se em um trono e gradativamente começar a desinflar até esvasiar a roupa, diante de todos os assistentes. Cada Babá tem a sua peculiaridade, sua cantiga própria, sua entonação de voz, sua roupa e sua linhagem totêmica. Também materializam presentes que deixam para seus filhos e amigos.


Os Babás não devem ser tocados por mão humana e para tanto são dirigidos durante suas apresentações por Ojés que têm nas mãos os “Inxans” (vara de amoreira) que os conduzem com pequenos toques. Porém, não raro, tanto na Nigéria como no Benin ou Bahia, algumas vezes os Babás permitem que alguém lhes apertem um braço ou uma mão para que todos tenham a certeza de que não existe uma pessoa dentro daquela roupa. Os Babás gritam e falam geralmente no dialeto Yorubá Castiço ou Ewe, no que é traduzido pelo Ojé que o acompanha. Os Babás atendem a pedidos mediante a entrega de oferendas (presentes) de momento com os mesmos escritos ou falados durante a cerimônia.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Acarajé





Acarajé é uma comida ritual de vários orixás em específico ao Orixá Iansã, podendo ser servido ao Orixá Exu, Xango, Obá e outras divindades. Acara é o pão sagrado da cultura africana, servido aos fieis no sentido de confraternizar e celebrar a vida. Sempre sacralizado por um toque especial chamado Ylu Oya. Para o Povo do Santo é chamado de àkàrà que significa Pão de fogo, enquanto je possui o significado de comer. Foram reunidas as duas palavras numa só, acara-je, ou seja, “comer Pão de fogo”. Devido ao modo de preparo, o prato recebeu esse nome. Mesmo ao ser vendido num contexto profano, o acarajé ainda é considerado, pelas baianas de acarajé como uma comida sagrada. Por isso, a sua receita, embora não seja secreta, não pode ser modificada e deve ser preparada apenas pelo Povo de Santo, mesmo que não seja iniciado. O acarajé é feito com feijão fradinho, que deve ser quebrado em um moinho em pedaços grandes e colocado de molho na água para soltar a casca. Após retirar toda a casca, passar novamente no moinho, desta vez deverá ficar uma massa bem fina. A essa massa acrescenta-se cebola ralada e um pouco de sal. O segredo para o acarajé ficar macio é o tempo que se bate a massa. Quando a massa está no ponto, fica com a aparência de clara de ovo em neve. Para fritar, use uma panela funda com bastante azeite-de-dendê. Normalmente usam-se duas colheres para fritar, uma colher para pegar a massa e uma colher de pau para moldar em forma arredondada. O azeite deve estar bem quente antes de colocar o primeiro acarajé para fritar. Os três primeiro acarajés sempre é oferecido a Exu pela primazia que tem no candomblé. Os seguintes são fritos normalmente e ofertados aos orixás para os quais estão sendo feitos e distribuídos com os demais. O acará Oferecido ao orixá Iansã diante do seu assentamento é feito num tamanho de um prato de sobremesa na forma arredondada e ornado com nove ou sete camarões defumados, confirmando sua ligação com os odu odi e ossá , cercado de nove pequenos acarás, simbolizando "mensan orum" nove Planetas. O acará de xango tem uma forma Ovalar imitando o cágado que é seu animal preferido e cercado com seis ou doze pequenos acarás de igual formato, confirmando sua ligação com os odu Obará e êjilaxeborá.

Comida





Comida ritual (ajeum axé) são as comidas específicas de cada Orixá, cujo preparo requer um verdadeiro ritual. Esses alimentos depois de prontos são oferecidos aos Orixás acompanhados de rezas e cantigas. Antes, durante ou no final da festa, grande parte são distribuídas para todos os presentes, chamadas comida de axé, pois acredita-se que o Orixá aceitou a oferenda e impregnou de axé. A Iyabassê precisa saber exatamente como se prepara cada uma dessas comidas, para que elas sejam aceitas pelos Orixás. Ebôya é uma comida ritual feito com fava. A fava branca deve ficar de molho no mínimo de nove horas, deve ser aferventada, sem deixar que fiquem extremamente cozidas, em seguida colocada na água fria para interromper o cozimento e possibilitar a retirada das peles, depois devem ser refogadas com cebola, camarão defumado, azeite doce e um fio de azeite de dendê. A mesma oferenda pode ser preparada com o milho branco na falta da fava, todavia recebe o nome de Dibô, possuindo o mesmo valor ritual. É uma comida oferecida especificamente ao orixá Iemanjá, também nos rituais de ori, bori e assentamento de cabeça, no sentido de dar equilíbrio mental, espiritual, estimulando a paz e tranquilidade. Nas oferndas de Iyá Ogun, Iyá T’Ogun e Ogunté, acrescenta-se nove bolas de inhame. O inhame deve ser bem cozido em água sem sal, depois pilado em pilão, ou com a ponta de um garfo, em seguida sovado para obter uma massa pastosa, modela-se os bolos de forma arredondada com as mãos e cuidadosamente deve ser colocados na borda do prato do EbôYa ou Dibô. Os bolinhos de inhames são chamados de furá, também é muito apreciada e oferendado para os orixás, oxaguian, oxalufan.

Iyepòndàá ou Ipondá,







Kare, Iyepòndàá ou Ipondá, Yeyeòkè, Iya Ominíbú, Ajagura, Ijímú, Ipetú, Èwuji, Abòtò, Ibola Oparà ou Apará. Na Nigéria, mais precisamente em Ijesá, Ijebu e Osogbó, corre calmamente o rio Oxum, a morada da mais bela Yabá, rainha de todas as riquezas, protetora das crianças, mãe da doçura e da benevolência. Generosa e digna, Oxum é a rainha de todas as águas, mares e rios. Vaidosa, é a mais importante entre as mulheres da cidade, a Ialodê. É a dona da fecundidade das mulheres, a dona do grande poder feminino. Oxum é a deusa mais bela e mais sensual do Candomblé. É a própria vaidade, dengosa e formosa, pacienciosa e bondosa, mãe que amamenta e ama. Um de seus orikis e visto com mais atenção, revela o zelo de Oxum com seus filhos: Rainha elegante. Que tem jóias de cobre maciço. É uma cliente dos mercadores de cobre. Oxum limpa suas jóias de cobre. Antes de limpar seus filhos. O primeiro filho de Oxum chama-se Ide, é uma verdadeira jóia, uma argola de cobre que todo iniciado de Oxum deve carregar em seu braço. Oxum não vê defeitos em seus filhos, não vê sujeira, seus filhos, para ela, são verdadeiras jóias, ela só consegue enxergar seu brilho. É por isso que Oxum é a mãe das crianças, seres inocentes e sem maldade, zelando por elas desde o ventre até que adquiram independência. Seus filhos, antes, suas jóias, sua maior riqueza. Seu segundo filho é Logun Edé (lógunèdè), o orixá da riqueza e da fartura, filho de Oxum e Oxóssi, deus da guerra e da água. É, sem dúvida, um dos mais bonitos orixás do Candomblé, já que a beleza é uma das principais características dos seus pais.Caçador habilidoso e príncipe soberbo, Logun Edé reúne os domínios de Oxóssi e Oxum e quase tudo que se sabe a seu respeito gira em torno de sua paternidade. Apesar de sua história, é preciso esclarecer que Logun Edé não muda de sexo a cada seis meses, ele é um orixá do sexo masculino. Sua dualidade se dá em nível comportamental, já que em determinadas ocasiões pode ser doce e benevolente como Oxum e em outras, sério e solitário como Oxóssi. Logun Edé é um orixá de contradições; nele os opostos se alternam, é o Deus da surpresa e do inesperado. Na Nigéria, a cidade de Logun Edé chama-se Ilesa e é uma das mais ricas e prósperas da África, mas o seu culto na região está em via de extinção. Para recuperar um pouco de sua história é preciso voltar à sua cidade, onde encontram-se seu palácio e seus principais sacerdotes. Na África negra, dizem que Logun Edé seria na verdade Ólòlún Ode – o guerreiro caçador-, o maior entre todos os caçadores, pai de todos eles, inclusive de Oxóssi. E se observarmos a cantiga de Oxóssi, veremos que expressão Omo ode, ou seja, filho do caçador, é constante, podendo inferir certa lógica nas histórias contadas pelos africanos. Vejamos um exemplo: Omo Ode l’oní, omo Ode lúwàiyé Omo Ode l’oní, omo Ode lúwàiyé (O filho do caçador é o senhor, O filho o caçador é o senhor da Terra). Todavia, não podemos desconsiderar o processo cultural que deu origem ao Candomblé e as diferenças fundamentais que existem entre os cultos aos orixás no Brasil e na África. O Candomblé é um ‘resumo de toda a África mística’. Muitos deuses que na África mantinham a sua autonomia, no Brasil foram reunidos em um único orixá e divididos em diversas qualidades. Oxum Yéyé Ipondá e Odé Erinlé são, respectivamente, as qualidades de Oxum e Oxóssi que se consideram os pais de Logun Edé. Nós brasileiros sabemos cultuar orixá muito bem, já adquirimos tradição própria que difere, evidentemente, da africana. No Candomblé brasileiro, Oxóssi e Oxum são os pais de Logun Edé, um deus único que encontra em sua paternidade uma forma de existir e residir, pois seu culto se mantém até hoje e é cada vez mais crescente no Brasil. A história revela que Oxóssi, feliz pelo filho vindouro, declarou a Oxum o seu amor e pediu a ela posse do menino: -Oxum, por amor a você, quero que Logun Edé fique comigo, vou ensiná-lo a caçar. Comigo ele aprenderá os segredo da floresta. Mas Oxum também amava Logun Edé e por maior que fosse seu amor por Oxóssi ela não poderia separar-se de seu filho então declarou: -Logun Edé viverá seis meses com sua mãe e seis meses com o seu pai, comerá do peixe e da caça. Ele será Oxóssi e será Oxum, mas sem deixar de ser ele mesmo, Logun Edé: uma princesa na floresta e um caçador sobre as ondas! Baba

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O significado das 3 cores Osún ,Efun ,Wáji .







Efun (barro branco encontrado no fundo dos rios); foi o primeiro condimento utilizado antes da introdução do Sal. Muito usado em Ebos elaborados para aos Orisa-funfun (Orisa’s dos primórdios). O efun simboliza o Dia, por isso, quando em pó, seja soprado ou friccionado seco é utilizado com o objetivo de expandir, vitalizar, iluminar, clarear, despertar, avivar. Já o Efun molhado com água pura ou com o soro do Igbin é utilizado para acalmar, tranqüilizar, adormecer, suavizar, abrandar, repousar, proteger. Por isso que a cabeça do Yawo em reclusão deve permanecer coberta de pó de Efun o Dia, e durante a noite coberta com Waji e pequenas marcas de Efun.
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Arokin ou Waji, tinta azul que símbolo da idealização, transformação, direcionamento. Utilizado para fins financeiros, atrair dinheiro, transformar ou neutralizar energias ruins, acalmar alterar, afastar energia de Iku-Egun e espíritos perversos.

O osún . Pó vermelho que traz a vida ao iniciado simboliza a cor do ejé ou seja da vida do renascimento muito empregado para os yawôs só não se deve usar em filhos de oxalá quando dos mesmos recolhidos muito apreciado para ebós de riqueza e afastamento de doenças e recuperação da Vida .
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

ossaim








Em uma casa de candomblé, um dos elementos principais e que requer grande sabedoria são as folhas. Sem esse entendimento não haverá a presença do Orixá, o velho provérbio das casas: Kó sí ewé, kó sí Orixá! Sem folha não há Orixá.

Ter os conhecimentos das folhas que vão participar dos banhos purificatórios, combiná-las com suas propriedades específicas adequadas a cada Orixá, a cada Orí, na confecção do adòsú, na preparação da ení do futuro ìyàwó como forma de proteção e fortalecimento, no àgbo do banho do ìyàwó para purificá-lo, como também como bebida e remédio e o próprio transe na incorporação da energia, estabelecendo equilíbrio e inconsciência. A quantidade de folhas no àgbo varia de casa para casa podendo ser quatro folhas ou múltiplos de quatro e combinando a essência,(quente/fria, macho/fêmea) equilíbrio.

O Olosányìn é o responsável pelas ervas, folhas e vegetais em geral, este cargo está diretamente ligado aos zeladores da casa, dada a sua importância e responsabilidade, caso não existe um Olosáyìn ou Babalosáyìn, o próprio Babalorixá ou Iyalorixá cumprirá essa função, não podendo delegar a outro filho.

As folhas quando chegam na casa devem primeiramente descansar por algum tempo, depois devem ser bem lavadas por quem irá macerá-las, são colocadas sobre a ení para que o Babalorixá ou Iyalorixá possa rezá-las com cânticos das folhas ou de cada folha especificamente de frente para os Ìyàwós que se encontram Kúnlè. O Bàbá ou Ìyá abrirá um Obí, confirmará as folhas escolhidas, mastigará o obí espargindo-os sobre as folhas com seu hálito, seu axé, suas palavras mágicas, para logo depois soltar as folhas para macerar, separando os galhos, caules e folhas feias para o lado, em silêncio, com uma vela ou fifó aceso à frente, sem pressa e rápido, o banho do aríàse do Ìyàwó. Vale ressaltar que após a maceração, o banho descansa um pouco e o que sobrou do banho, já coado, irá para o ojúbo de Òsanyìn da casa, para depois ser despachado nas águas do rio ou mato.

Todas as obrigações, além da iniciação, em que tiver sacrifício de animais de quatro pés, serão sempre precedidos dessa liturgia sagrada sendo um orô obrigatório, sempre com louvação a Pai Òsányìn, no qual chamamos comumente de Sasányìn ou seja Asá Òsányìn, que são feitos no primeiro dia após iniciação, no terceiro e sétimo dia. Há também o ebó de carrego de toda a obrigação que o próprio Ìyàwó participa que é entregue a Èsù Òdàrà em seu ilé, para que de tudo certo e proporcione tranquilidade aos rituais secretos internos do àse.

“Korin Ewé”, isto é, cantar Folhas em louvar a Òsányìn, aos animais que participaram da obrigação, aos Bàbás, Ìyás, ancestrais, aos ègbóns, sua raiz e àse, Ogans e Ekedis, aos Orixás e ojubós da casa, a Òrúnmìlà e por fim a Òsàlá. Finaliza-se o culto com os cântigos das três águas, o omièrò de àse, reverenciando o Màrìwò e Òsányìn.

“Biribiri bí ti màrìwò
jé òsányìn wálé màrìwò
Biribiri bí tí màrìwò
Bá wa t’órò wa se màrìwò”.

Algumas casas tradicionais tem um esquema fixo de folhas combinadas para banhos de àgbo pra casa, para obrigação, para o àse, para o osé, etc.

Um dado litúrgico importantíssimo é que as folhas acompanham os assentamentos de todo e qualquer Orixá quando estes vão comer, acomodando o assentamento, como também o ìgbá Orí quando o Orí vai comer. As folhas combinam de uma forma mágica misturadas e essencialmente equilibradas e de acordo com cada Orixá e sempre frescas.

Obs: Não se toma banhos de àgbo velho que pode estar passado ou estragado, pois as ervas perdem sua função litúrgica.

Pai Òsányìn gosta de um fumo de rôlo no cachimbinho de barro, se disfarça num lagarto, num galho seco que Eyé pousa, pula numa perna só, gosta de vinho de palma, fradinho torrado com mel, frutas, alquimista, solitário e um grande Pai que está presente dentro do àse das casas ketu/Nagô.

Sãos as folhas secas que nos fornecem um bom defumador para inúmeras finalidades, são com folhas que fazemos vários tipos de ebós de sacudimento de egun, e quantas dietas fazemos com folhas? vários comidas de Orixás.

São 21 os korín ewé entoados e a primeira Ewé é o Pèrègún, a folha ancestralizada: asà o, erù ejé.

“Pèrègún àlà wa titun o
Pérègún àlà titun
Bàbá pèrègún àlà o merin
Pèrègún àlà wa titun”

Só Òsányìn conhece os segredos das folhas, só ele sabe os ofós que despertam seu poder e força, conectar com essa magia é o grande Awo, o ejé verde é fundamental em toda liturgia.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

sábado, 11 de janeiro de 2014

IWÀ PÈLÈ





O corpo literário de Ifá é uma importante fonte de informações sobre o sistema de crença e valores Yorubas. Como porta voz de outras divindades, Ifá é depositário de todos os mitos e dogmas morais das outras divindades. O Povo Yoruba crê que Òrúnmìlá estava presente quando Olódùmarè(Deus todo poderoso) criou o céu e a terra. Portanto, Ifá conhece a história do céu e da terra e domina as leis físicas e morais com as quais Olódùmarè governa o universo. Por isso Òrúnmìlá é tido como sábio conselheiro, historiador e tutor da sabedoria divina. Por isso, entre seus nomes de honra está:

Akónilóran bí ìyekan eni,
Ogbón ile ayé,
Òpìtàn ilè ifè[1]

Aquele que ensina alguém com sabedoria, como se fosse de sua família
A sabedoria da Terra,
O historiador da terra de Ifè[2]

Os importantes conceitos filosóficos personificados no corpo literário de Ifá incluem o conceito de Orí (cabeça espiritual ou interior), ebo (sacrifício) e Ìwàpèlè (bom caráter). Esses três conceitos são muito relacionados e complementares entre si. Orí é a essência da sorte e a mais importante força responsável pelo sucesso ou fracasso humano. Além disso, Orí é a divindade pessoal que governa a vida e se comunica, em prol do indivíduo, com as demais divindades. Qualquer coisa que não tenha sido sancionada pelo Orí de uma pessoa, não pode ser aprovado pelas divindades. Isso que quer dizer a declaração encontrada em Ògúndá Méjì:
Orí, pèlé,
Atèténíran;
Atètègbenikòòsà
Kò sóòsa tíí dá ‘ níí gbè léyìn orí eni[3]

(Orí, o saúdo
Você que sempre abençoa rapidamente os seus
Você, que abençoa o homem antes de qualquer òrìsá,
Nenhum òrìsá abençoa uma pessoa sem o consentimento de seu Orí)

Ebo (sacrifício) é uma forma de comunicação simbólica e ritual entre todas as forças do universo. Os yoruba acreditam que, além do próprio homem, existem duas grandes forças em oposição no universo, uma benevolente em relação aos seres humanos e outra hostil. As forças benevolentes são, coletivamente, conhecidas como ìbo (as divindades), e as malevolentes são conhecidas como ajogun[4] (guerreiros opositores ao homem). As àjé (as bruxas) estão também em aliança com os ajogun para a destruição do homem e de sua obra. Os humanos necessitam oferecer sacrifício às duas forças para sobreviver. O Homem necessita oferecer sacrifício às forças benéficas para continuar gozando de seu apoio e bênçãos. Necessita também oferecer sacrifício aos ajogun e às àjé com o objetivo de não encontrar sua oposição quando estiver prestes a realizar algum projeto importante.

A divindade que age como mediador entre as três partes mencionadas acima é Èsù, que partilha um pouco dos atributos das forças benéficas e maléficas. É o policial do universo. Além disso, é imparcial, uma vez que só irá dar apoio ao homem ou divindade que tenha feito sacrifício. Isso é o que quer dizer a afirmação: eni ó rúbo l Èsùú gbè. Uma vez recebido o sacrifício prescrito, ele proibirá os ajogun de prejudicar o suplicante. Èsù é o guardião do àse, semelhante à autoridade e o poder divino com os quais Olódùmarè criou o universo. Èsù é, consequentemente, o verdadeiro administrador do universo, o princípio da ordem e da harmonia e agente da reconciliação. Sua esposa, Agbèrù, recebe todos os sacrifícios em seu nome. Após tirar sua parte de aárùún (cinco búzios) e um pouco de todos os outros materiais oferecidos em sacrifício. Èsù leva as oferendas para as divindades ou os ajogun envolvidos. O efeito , normalmente, a restauração da paz e a reconciliação entre as partes conflituosas.

Um questão emerge imediatamente quando analisamos o que foi dito até agora. Qual o papel reservado aos seres humanos no universo Yorubá, onde o indivíduo não pode agir de forma independente de seu Orí e está à mercê de dois poderosos conjuntos de forças sobrenaturais aos quais ele deve oferecer sacrifícios incessantemente para poder sobreviver. O indivíduo realmente importa em tal sistema? É aí que o conceito de Ìwàpèlè entra. Juntamente com um conjunto de princípios menores como àyà e esè, o princípio de Ìwàpèlè, em certo grau, liberta o homem dessa estrutura de universo autoritária e hierárquica e, de qualquer forma, provém a ele com um conjunto de princípios com os quais regular sua vida, com o intuito de evitar colisões com os poderes sobrenaturais e com seus companheiros humanos. Segue-se uma pequena descrição e interpretação do princípio de Ìwà relacionado com os as crenças dos Yorubas já citadas acima.

A palavra Ìwà é formada a partir da raiz verbal wà (ser ou existir) adicionada do prefixo deverbativo “i”. O sentido original de Ìwà pode, então, ser interpretado como “o fato de ser, viver ou existir”. Assim, quando Ifá fala de

Ire owó
Ire omo
Ire àikú parí ìwà,[5]

O significado de ìwà nesse contexto é exatamente o referido acima.

Tenho a impressão de que o outro significado de ìwà (caráter, comportamento moral) é originário da utilização idiomática deste sentido léxico original. Se este for o caso, ìwà (caráter) é, portanto, a essência de ser. O ìwà de um ser humano pode ser usado para caracterizar sua vida, especialmente em termos éticos.

Além disso, a palavra ìwà (caráter) pode ser usada para se referir a ambos, bom e mau caráter. Para exemplificar de forma declarativa, alguém poderia dizer:

Ìwà okùnrin náà kò dára
O caráter do homem não é bom.

Ìwà okurin náàá dára
O caráter do homem é bom.

Mas, às vezes, a palavra ìwà pode ser usada para se referir unicamente ao bom caráter.

Obìnrin náàá ní ìwà
A mulher tem bom caráter.

Pode-se dizer também:

1- Ìwà pele (caráter bom, ou manso)
2- Ìwà búburú (mau caráter)

Este estudo é sobre Ìwà pele, que pode ser traduzido como caráter manso, gentil, ou, em um sentido amplo, bom caráter.

Como mencionado acima, ìwà é tido como um dos muitos objetivos da existência humana para o Yorubá. Todo indivíduo deve empenhar-se para ter ìwà pele, com o objetivo se ser capaz de ter uma boa vida num sistema dominado por muitos poderes sobrenaturais e numa sociedade controlada pela hierarquia nas autoridades. O homem que possui ìwàpele não colidirá com nenhum dos poderes, sejam humanos ou sobrenaturais e, desta forma, viver em completa harmonia com as forcas que governam tal universo.

É por isso que o Yoruba tem ìwàpele como o mais importante de todos os valores morais e o maior de todos os atributos de qualquer homem. A essência da prática da religião para o Yoruba consiste, assim, em empenhar-se em cultivar Ìwàpèlè. Isso é o que quer dizer o ditado:

Ìwà Lèsin
(Ìwà é um outro nome para a devoção religiosa)

No corpo literário de Ifá, ìwà é representada por uma mulher. Ogbè Alárá, um dos Odù Ifá menores diz que Ìwà era uma mulher de máxima beleza com a qual Òrúnmìlá se casou, após ela já ter se separado de diversas outras divindades. Apesar de sua beleza, Ìwà não tinha um bom comportamento. Ela tinha péssimos hábitos e uma língua incontrolável. Além disso, ela era preguiçosa que sempre fugia de suas responsabilidades.


Após eles estarem casados há algum tempo, Òrúnmìlá já não podia mais tolerar seus maus costumes. Assim, ele a mandou embora. Porém, quase imediatamente após ela sair de casa, ele se deu conta de que mal não poderia viver sem ela. Ele perdeu o respeito de seus vizinhos e foi desprezado por sua comunidade. Além disso, todos os seus clientes o abandonaram e a prática da divinação não gerava mais lucros. Faltava-lhe dinheiro para gastar, roupas para vestir e outros utensílios necessários para que vivesse uma vida boa e nobre.

Òrúnmìlá, então colocou sua roupa de Egúngún e saiu em busca de Ìwà. Ele visitou as casas dos dezesseis mais importantes chefes do culto à Ifá porém não encontrou sua esposa. Ele permaneceu do lado de fora da casa de cada um dos chefes e cantou a seguinte canção:

Sabedoria da mente, sacerdote de Ifá da casa de Alárá
Consultou Ifá para Alárá,
Apelidado de Ejì Òsá,
Descendente daqueles que usam bastões de ferro para fazer trinta gongos.
Grande compreensão, sacerdote de Ifá de Ajerò
Consultou Ifá para Ajerò,
Descendente do homem valente que se recusa completamente a entrar em uma briga.
Onde você viu Ìwà, me diga
Ìwà, Ìwà, é a você que estou buscando.
Se você tem dinheiro,
Mas não tem um bom caráter,
O dinheiro pertence a outra pessoa.
Ìwà, Ìwà, é a você que estamos buscando.
Se alguém tem filhos,
Mas lhe falta com caráter,
Seus filhos pertencem a outra pessoa.
Ìwà, Ìwà, é a você que estamos buscando.
Se alguém possui uma casa
Mas lhe falta bom caráter,
Sua casa pertence a outra pessoa.
Ìwà, Ìwà, é a você que estamos buscando.
Se alguém tem roupas,
Mas lhe falta bom caráter
Suas roupas pertencem a outra pessoa.
Ìwà, Ìwà, é a você que estamos buscando.
Todas as boas coisas da vida, que um homem tiver,
Se lhe falta bom caráter,
Pertencem a outra pessoa.
Ìwà, Ìwà, é a você que estamos buscando[6].

Após uma longa busca, Òrúnmìlá encontrou Ìwà na casa de Olójo que havia desposado ela novamente. Quando chegou à casa de Olójo, ele cantou a mesma cantiga e Olójo veio para o lado de fora para o encontrar. Òrúnmìlá disse a ele que estava em busca de Ìwà, sua esposa, que o havia abandonado. Olójo se recusou a devolve-la para Òrúnmìlá e uma disputa seguiu-se, na qual Òrúnmìlá atingiu Olójo com a pata de uma cabra com a qual havia feito sacrifício antes de sair de casa. O impacto jogou Olójo a muitas milhas de distância. Òrúnmìlá, então, pegou sua esposa de volta, em paz. A história sobre ìwà contada acima é importante por diversas razões. Em primeiro lugar, é digno de nota que o símbolo de bom caráter seja uma mulher. No folclore Yorùbá, a mulher representa os dois lados opostos do envolvimento emocional. As mulheres são símbolo do amor, cuidado, devoção, suavidade e beleza. Ao mesmo tempo são, especialmente as bruxas, símbolo da maldade, do endurecimento, desfaçatez e deslealdade. Uma vez que ìwà é um atributo que pode ser tanto mau como bom(conforme explicado acima) somente as mulheres, às quais os Yorùbá já atribuem tal visão moral estereotipada, podem ser usadas como símbolo de ìwà. Usando tal símbolo, o que Ifá quer que entendamos é que todo indivíduo deve tomar cuidado com seu caráter como toma conta de sua esposa. Assim como uma esposa pode ser um fardo para seu marido, um bom caráter pode ser um fardo para o justo e fiel, porém estes nunca devem se esquivar de sua responsabilidade. As mulheres podem ser tidas como bruxas e mentirosas, porém o Yorùbá sabe que sem elas a sociedade humana não pode sobreviver. Da mesma forma, o bom caráter pode ser difícil de se possuir como atributo, porém se ninguém o tivesse, o mundo seria um lugar muito difícil de se viver.

Em segundo lugar, é importante notar também que a própria Ìwà, é uma mulher que lhe falta um bom caráter e que se permite péssimos hábitos. Isso significa que um homem que aspire ter bom caráter deve estar preparado para suportar aquilo que os Yorùbá chamam de ègbin( coisa suja ou indecente). O homem que aspire ter bom caráter deve saber que algumas vezes se encontrará em situações desagradáveis, as quais ofenderam seu senso de dignidade e de decência. Ainda assim ele não deve se afastar do caminho do bom caráter sob pena de perder a própria essência e o valor da vida.

O verso de Ifá citado acima compara ìwà com outras coisas valiosas que o homem também aspira conquistar – dinheiro, filhos, casas e roupas. Ifá posiciona ìwà acima de todas essas coisas de valor. Um homem que possua todas essas coisas mas que não tem ìwà, as perderá rapidamente, provavelmente, para outro que tenha ìwà e que sabia cuidar de tudo isso. Ìwà é, portanto, o mais valioso bem entre tudo aquilo que é valioso no sistema de valores Yorùbá.

Outro verso de Ifá sobre ìwà, citado pelo Sr. Modupe Alade, em sua moradia, no Egbé Ijinlè Yorùbá (Sociedade Cultural Yorùbá ), Lagos, em 31 de agosto de 1967 e publicado na revista de cultura Yorùbá, Olókun[7], nº8, de agosto de 1969, se diferencia em alguns detalhes signficantes do visto anteriormente. O seguinte é extraído desse poema:

Se pegarmos um objeto de madeira rágbá[8] e batermos com ele numa cabaça,
Vamos saudar Ìwà
Se pegarmos um objeto de madeira rágbá e batermos com ele numa cabaça,
Vamos saudar Ìwà
Se pegarmos um objeto de madeira rágbá e batermos com ele numa pedra,
Vamos saudar Ìwà
Ifá foi consultado para Orunmilá,
Quando nosso pai ia se casar com Ìwà.
Primeira vez que Òrúnmìlá casava com uma mulher,
Ìwà foi com quem ele casou,
Ìwà mesma
Era filha de Sùúrù (paciência).
Quando Òrúnmìlá propôs casamento a Ìwà,
Ela disse que estava de acordo.
Ela disse que se casaria com ele.
Mas que havia uma coisa que ele deveria observar.
Ninguém deveria mandá-la embora de seu lar nupcial.
Mas ela não deveria ser usada de forma descuidada, como alguém usa a água da chuva.
Ninguém deveria puni-la desnecessariamente...
Òrúnmìlá exclamou: Deus não permita que eu faça tal coisa.
Ele disse que cuidaria dela.
Disse que a trataria com amor,
E que a trataria com gentileza.
Então, ele casou com Ìwà.
Após um longo tempo,
Ele se tornou infeliz com ela..
Então começou a perturbar Ìwà.
Se ela fizesse uma coisa,
Ele reclamava que ela havia feito de forma errada.
Se ela fizesse outra coisa,
Ele também reclamaria.
Quando Ìwà percebeu que aquilo era demais para ela,
Disse: Tudo bem.
Voltou para a casa de seu pai.
Seu pai era o primogênito de Olódùmarè.
Seu nome era Sùúrù, o pai de Ìwà.
Ela, então, reuniu seus utensílios de cabaça,
E partiu para sua casa.
Ela foi para o òrun.
Quando Òrúnmìlá retornou, disse:
Saudações ao povo de dentro de casa.
Saudações ao povo de dentro de casa.
Saudações ao povo de dentro de casa.
Porém Ìwà não apareceu.
Nosso pai então perguntou por Ìwà.
Os outros habitantes da casa disseram que não a viram.
“Onde ela foi?
Foi ao mercado?
Ela foi a algum lugar?”
Ele perguntou isso durante muito tempo, até que
Juntou dois búzios com três,
E foi para a casa de um sacerdote de Ifá.
Disseram a ele que ela havia fugido.
Ele foi aconselhado a ir e encontrá-la no lar de Alárá.
Quando ele chegou a casa de Alárá, disse:
Se pegarmos um objeto de madeira rágbá e
batermos com ele numa cabaça,
É Ìwà que buscamos.
Vamos saudar Ìwà.
Se pegarmos um objeto de madeira rágbá e
batermos com ele numa cabaça,
É Ìwà que buscamos.
Vamos saudar Ìwà.
Se pegarmos um objeto de madeira rágbá e
batermos com ele numa pedra,
É Ìwà que buscamos.
Vamos saudar Ìwà.
Alárá, você viu Ìwà, diga-me?
É Ìwà que buscamos.
Ìwà.
Alárá disse que não havia visto Ìwà.
Nosso pai foi, então, para a casa de Òràngún, rei da cidade de Ilá
Descendente de um pássaro com muitas penas.
Ele perguntou se Òràngún tinha visto Ìwà.
Mas Òràngún disse que não tinha visto.
Mal haviam outros lugares onde procurar.
Após muito tempo,
Ele voltou,
E indagou a seus instrumentos divinatórios.
Ele disse que procurou por Ìwà na casa de Alárá.
Ele a procurou na casa de Ajerò,
Ele a procurou na casa de Óràngún.
Ele a procurou na residência de Ògbérè, sacerdote de Ifá de Olówu,
Ele a procurou na residência de Àséégbá, sacerdote de Ifá de Ègbá.
Ele a procurou na residência de Àtàkúmòsà, sacerdote de Ifá de Ìjèsà.
Ele a procurou na residência de Òsépurútù, sacerdote de Ifá de Rémo
Mas ele disseram que Ìwà tinha ido para o òrun.
Ele disse que iria lá e a traria de volta.
Eles disseram: tudo bem,
Providenciaram para que ele realizasse sacrifício.
Disseram a ele que oferecesse uma rede,
E desse mel a Èsù.
Ele ofereceu o mel em sacrifício a Èsù.
Quando Èsù provou o mel,
Disse: O que é isso que é tão doce?
Òrúnmìlá então, entrou em sua roupa de Egúngún,
E foi para o céu.
E começou a cantar novamente.
Èsù fez um jogo de desfaçatez,
E foi para onde Ìwà estava.
Ele disse: um certo homem chegou no céu,
Se você ouvir sua canção,
Ele diz tais e tais coisas...
É você que ele está procurando...
Ìwà então partiu (de seu esconderijo),
E foi os encontrar no local onde cantavam.
Òrúnmìlá estava em sua roupa Egúngún.
Ele viu Ìwà através da rede da roupa.
Ele a abraçou.
Aqueles que transformam a má sorte em boa, então, abriram a roupa.
Ìwà, porque você se portou de tal maneira?
Me deixou na Terra e foi embora.
Ìwà disse: É verdade.
Ela disse que foi por causa da forma que ele a maltratou
Que ela fugiu.
Para que ela tivesse paz em sua mente.
Òrúnmìlá então implorou para, por favor,
Que ela tivesse paciência com ele.
E voltasse com ele.
Mas Ìwà se recusou,
Mas disse: Tudo bem
Ela ainda podia fazer alguma coisa.
Ela disse: Você, Òrúnmìlá,
Volte para a Terra
Quando você chegar lá,
Todas as coisas que eu disse que você não fizesse,
Não tente fazer.
Comporte-se muito bem.
Comporte-se com bom caráter.
Cuide de sua esposa,
E cuide de seus filhos.
De hoje em diante, você não colocará mais os olhos em Ìwà.
Mas eu estarei com você.
Mas, o quer que você faça para mim,
Irá determinar quão ordenada será sua vida.

O verso de Ifá relatado acima confirma o anterior em alguns aspectos. Em ambos Ìwà é uma mulher e foi esposa de Òrúnmìlá. Além disso, em ambas histórias, Òrúnmìlá teve que ir procurar por Ìwà depois que ela o deixou. A canção que Òrúnmìlá cantou em ambos os poemas, enquanto buscava Ìwà é, em certo grau, similar. Apesar disso tudo, os poemas são diferentes. O segundo poema diz que Ìwà é filha Sùrùú (Paciência) que foi o primogênito de Olódùmarè. Esse detalhe fundamental falta ao primeiro poema e portanto é necessário ressaltá-lo.

O segundo poema liga Ìwà com Paciência e também com o próprio Deus. O significado disso é que o homem, para obter o bom caráter, deve em primeiro lugar, ter paciência. É por isso que temos o ditado:
Sùrùú ni baba ìwà (Paciência é o pai do bom caráter). De todos os atributos que um homem com bom caráter deve ter[9], paciência é o mais importante se todos porque a pessoa que é paciente terá tempo para meditar sobre as coisas e sempre chegar a justas e honestas conclusões. Devemos, então, ser paciente com as pessoas e aprender a ser tolerantes para podermos ter bom caráter. Se Òrúnmìlá tivesse aprendido a ser paciente, ele não teria perdido sua esposa, Ìwà.

O segundo poema liga Ìwà com Olódùmarè, que, na história, é seu avô. O significado disso é muito claro. Significa que Olódùmarè é a personificação do bom caráter. Ele, então, espera que os seres humanos também tenham bom caráter. É um pecado contra a divina lei de Olódùmarè que qualquer um se desvie do caminho do bom caráter. A pessoa que faça isso será punida pelas divindades a menos que ofereça sacrifício, o qual mostrará que se arrependeu e restaurará a paz e a harmonia na desgastada relação que seu desvio cria entre a pessoa e as forças sobrenaturais. Isso, então, é a razão pela qual o Yorùbá tem o bom caráter como a essência da religião.

O corpo literário de Ifá pode, então, ser tomado como um conjunto de poemas míticos e históricos que nos oferece, através do uso da analogia, imagens e símbolos o que fazer no intuito de estar em paz com Deus, as forças sobrenaturais, nossos vizinhos e, em verdade, consigo mesmo. Todos esses preceitos e advertências podem ser reduzidos a um pensamento: Atenha-se fortemente ao cultivo do bom caráter para que sua vida seja boa.

O conceito Yorùbá de existência transcende o tempo do indivíduo na Terra. Vai além de sua época e inclui as memórias que o homem deixa após sua morte. Portanto, é fundamental ser um homem de bom caráter para que deixe boas lembranças quando se for. Numa sociedade que eleva os mortos a condição de ancestrais e que armazena homenagens a eles em sua arte verbal, a única recompensa durável para o homem de bom caráter reside nos poemas, nas máscaras e nas cerimônias anuais que serão feitas em sua homenagem após morte.

A importância posta, pelos Yorùbá, no princípio de ìwà mostra que as religiões tradicionais africanas são baseadas em profundos valores morais que sustentam as crenças inerentes a essas religiões.
Freqüentemente, ouvimos dos seguidores ignorantes do Cristianismo e do Islã, que as religiões tradicionais africanas não são baseadas em nenhum valor ético. Nada pode ser mais distante da verdade.

O princípio de ìwà mostra que as religiões tradicionais africanas são baseadas em profundas e significativas idéias filosóficas.

Omolokum












Omolokum significa literalmente filho do mar: Omo(filho) Lo(do) Okum(mar). Também é o nome da comida ritual do Orixá Oxum e cada grão de feijão fradinho faz alusão aos óvulos encontrado no ovário feminino que simboliza a fertilidade e possibilidade de nascimento. Esta comida ritual é oferecida ao Orixá Oxum e as Yámis. O feijão fradinho dever ser colocado de molho em água natural no mínimo cinco horas antes do preparo, na hora do cozimento os grãos devem ser colocados diretamente em água fervente, para evitar as toxinas e a ação do enxofre que causa dores abdominais e gases. Depois de cozidos devem ser escorridos e refogados com cebola ralada, camarão defumado, sal, azeite de dendê, azeite doce e noz-moscada. Sempre colocado em recipientes redondos em ligação ao útero e ovário, enfeitado com camarões inteiros e ovos cozidos inteiros sem casca, normalmente são colocados 5 ovos mas essa quantidade pode mudar de acordo com a obrigação do candomblé. A comida de Orixá difere, assim, das comidas servidas no dia a dia do terreiro, bem como daquelas passadas no corpo das pessoas, usadas para “descarregar”, limpar, livrar de algum contra-axé (infortúnios). Em linhas gerais, comida é tudo que se come. Desde à pimenta e o obi, que se masca para conversar com o Orixá, ao naco de carne oferecido a este mesmo Orixá, partilhado pela pessoa. Nesse processo de diferenciação, em que o ingrediente, na sua grande maioria, são os mesmos, muda-se a forma de ritualizar, a elaboração, o cuidado, “o tratamento”, a maneira de lidar com o mesmo ingrediente, o sentido impresso e invocado através das palavras de encantamento, cantigas e rezas.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ELEGUÁ BARA ALAYIKI




elegua_image



Eleguá / Elegbara Bara Alayikí significa que ele é muito guloso.
Também é conhecido como Eshú Bara Alayiki Agagá.
É da terra de Oyó e o mesmo trabalha em Ifá e em Osha.
É muito festeiro, revoltoso, de apetite voraz, adora o oti (aguardente).
Sempre deve ter ao seu lado uma garrafa de oti e comida.
Representa o engano, a traição, o inesperado.
Sempre escuta nossos pedidos, mas nunca sabemos como vai executá-los nem quando nem como vai começar nem terminar.
Nasce no Odú Iroso Umbo.
Foi ensinado por Ogun a encher de comida Ozun para que não fale.
Sua massa se fabrica só com a terra de uma colina, além dos demais ingredientes.
Eshú Bara Alayiki exige de quem o possua que faça as coisas de graça ou algumas vezes dê presentes.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Oriki Ogún





Bí omòdè ba da ilé


Kó o ma sé da Ogún..
Orò Ogún leewó 
Orò Ogún sòrò
E ma ba Ogún,fí ìjá serè
Ara Ogún, kán gò gò gò..
A pessoa pode trair tudo,
Somente não deve trair Ogun
As palavras de Ogun são fortes
As palavras de Ogun são perigosas
Não se brinca de brigar com Ogun
O corpo de Ogún ferve muito..

O que são Quartinhas e para que serve?






Quartinha é um pequeno pote, geralmente de barro, no qual de deposita água sagrada, água purificada ao Orixá e fica ao lado do assentamento do Orixá. O barro da quartinha, assim como nosso corpo, "transpira" e por isso que as quartinhas devem ser sempre de barro pois elas permitem que a água do seu interior evapore, mas deve-se ter um cuidado constante para que a quartinha não seque por completo, pois ela representa um ser vivo e o cuidado que temos com o Orixá.
Na África, todas as eram confeccionadas em barro, as escravas, quando em solo brasileiro, se encantaram, com as porcelanas das sinhazinhas e começaram a utilizar a porcelana, nos assentamentos dos Orixás femininos, porém as quartinhas de porcelana, louça, latão, metal, fazem com que a água fique estagnada o tempo todo e não evapore. Com o passar dos séculos, tradicionalmente ficou estipulado que os Orixás masculinos, possuiriam quartinhas de barro e os Orixás femininos, assim como Oxalá, tanto Oxalufan, como Oxaguiã, poderiam usarem quartinhas de porcelana.
A quartinha representa a respiração da divindade, então quando a divindade necessita dessa respiração, há o ciclo de evaporação da água através dos poros do barro. Aos Orixás masculinos são oferecidos quartinhas de barro sem alça, aos Orixás femininos são oferecidos quartinhas normalmente de louça ou mesmo de barro com alça.
As quartinhas também são chamadas de Busanguê, Eni, Amoré e outros, dependendo da nação. Colocar quartinha de louça aos pés da divindade, não é uma prática do Candomblé antigo, porque na África não se produz louça. Todos os utensílios ligados ao culto das divindades são feitos na sua maioria de barro e quando não são feitos de barro, é usado terracota ou argila.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Orín Orí-Cantiga da Cabeça









Orín Orí-Cantiga da Cabeça 
Orí mi o,se rèrè fún mí ,orí mí o se rèrè fún mí..Eda mí o se r`rè fun mí 
Orí oká,ní sanú oká,ori ejò sanú ejò, afómó opé ní sanú opé,
Orí mí o sè rèrè fún mí...
A minha cabeça faz o bem para mim..
O criador do meu ser, faz o bem para mim;...
A cabeça da serpente, não maltrata a serpente..
A cabeça da cobra, não maltrata a cobra
A trepadeira da palmeira não maltrata a minha cabeça
A minha cabeça, faz o bem para mim!