sábado, 14 de maio de 2016

ORUNKÓ

Uma das características mais marcantes do Candomblé, é ser uma religião INICIÁTICA, fazendo com que seus adeptos em determinado momento de suas vidas, possam vir a se integrar de fato ao culto dos Deuses negros mediante a iniciação.
A iniciação é composta por diversos rituais, como por exemplo, labé (raspagem do couro cabeludo) gberés (incisões rituais feitas superficialmente na pele), efun (pinturas tribais feitas pelo corpo com o efun, espécie de giz de origem mineral), além dos rituais de sacrifício expiatório, ebós, bori, panán, etc. Esses rituais, mesmo com a nomenclatura variada devido à língua utilizada, são praticamente unânimes em todas as nações, seja Ketu, Fon, Angola.
Um dos rituais pertencente à iniciação que envolve diretamente a cerimônia pública do Candomblé (conhecida como saídas de santo ou saída de yaô) é o anúncio do Orunkó do iniciado.
Todo neófito no culto aos Orixás recebe um nome pelo qual será reconhecido pelos deuses, pelo divino, e por todos os outros membros do seu egbé (comunidade religiosa). O Orunkó do iniciado é sempre anunciado em público no dia do Candomblé por uma divindade. Se estivermos falando de pessoas não rodantes, ou seja, que não passam por transe possessório da divindade, como Oloyés e Ajoyés, o Orixá manifestado em outro iniciado vem em público de braços dados com o filho para anunciar seu nome. Se a pessoa for rodante – yaô propriamente dito – ela vem em público no momento oportuno dentro da cerimônia tomada em transe por seu Orixá, que de braços dados com o padrinho/madrinha de Orunkó, responde em tom alto, quando pedido, para que todos ouçam o nome deu seu filho.
Normalmente, o padrinho/madrinha de Orunkó é escolhido pelo Babalorisá dentre os integrantes do egbé, ou em alguns casos, pessoas com grau avançado dentro da religião, zeladores de Orixá que estão ali para participar da cerimônia religiosa. É considerada uma grande honra e prestígio ser oferecido pelo Babalorisá a oportunidade de “tirar o Orunkó” de um de seus iniciados.
O Orunkó é sempre um tema muito polêmico entre os adeptos da religião. Ao seu redor encontra-se um grande mistério, pois muitos acreditam em sua profunda ligação com o plano superior, outros, apenas o consideram como “protocolo”dentro da iniciação. Há também os que acreditam que o Orunkó é, na verdade, o nome do Orixá – passo a explicar adiante – sendo que o nome do filho seria o OMORUNKÓ.
Em algumas linhagens de axé, o Orunkó deve ser apurado pelo sacerdote, reunindo informações diversas de acontecimentos durante o período de recolhimento, como sonhos do filho, dos irmãos de esteira, intuições, tudo isso acompanhado do conhecimento do zelador da língua Yorubá (para o caso dos filhos da nação de Ketu) e supervisionado pelo jogo de búzios.
Em outras, o Orunkó deve ser trazido pela própria divindade quando manifestada em seu filho. Acredita-se que o Orixá se utilizará da capacidade de pronuncia do filho e gritará o nome do iniciado, sem que este tenha sido apurado em jogo antes. Apenas para constar, pessoalmente eu acredito que a melhor maneira do Orixá conversar com o sacerdote é através do Oráculo, e não manifestado no filho, pois assim elimina qualquer possibilidade de influencia racional daquele que está supostamente em transe.
Normalmente o nome do iniciado contém conjunções, abreviações, corruptelas e combinações de palavras na linguagem pertencente à nação do iniciado, que fazem menção à personalidade, história ou característica do filho em conjunto com a divindade que o rege.
Certamente o nome que é gritado no salão de candomblé no dia da saída, é o nome DO INICIADO, e não do Orixá. Ora, cada Orixá já possui o seu nome: Xangô, se chama Xangô. Oxum, não se chama por exemplo, omirere (àgua boa), e sim, Oxum, simplesmente. Não haveria sentindo acreditar que o Orunkó pertence ao Orixá, assim como não ha sentindo acreditar que quem nasce durante a feitura é o Orixá. Pensar dessa forma, é certamente subestimar a divindade, ou mesmo ter a pretensão de imaginar quem um ser humano pode subdividir e manipular livremente a energia do Deus, fazendo-o “nascer” – e fazendo o morrer quando despachado aqueles objetos – à qualquer momento.
Na iniciação, quem nasce é o FILHO, e não o PAI (divindade). Quem possui Orunkó – ou dijina para os bantus – é o filho, e não o Deus.
O que é certo é que, o Orunkó é algo extremamente intimo e pessoal, que diz respeito somente ao filho e ao Orixá, e claro, ao sacerdote que intermediou essa relação. Por ser íntimo, é sim talvez uma falta de educação perguntar à algum iniciado o seu Orunkó. Se é da vontade dele que você saiba, ele lhe falará quando achar necessário. Contudo, não é algo proibido muito menos perigoso ter seu Orunkó revelado, mesmo porque, não se pode recriminar alguém por lhe chamar de outro nome que não o seu, se você ainda não se apresentou, correto? Não há empecilho algum você ser conhecido dentro de seu egbé por seu Orunkó, e o mesmo ser pronunciado por seus irmãos. Partimos do princípio que todos alí são providos e mantidos pela mesma energia, a energia do Orixá, e não devemos esperar nem pressupor a maldade alheia, ainda mais, de um irmão.
Aqueles que praticam a maldade irão fazer isso com o seu Orunkó, ou mesmo com seu nome de batismo cristão, ou seu nome civil. Temos que acreditar que lidamos com uma energia inteligente chamada Orixá, e crermos que o Deus não irá abandonar ou deixar de proteger seu filho contra a maldade alheia, apenas por o mau-feitor estar de conhecimento do nome de iniciado de seu filho. Aquele que quiser prejudicar alguém, não se dará por impedido apenas por não saber que o yao João Paulo se chama Obabunmi, ou que a egbom Martha Dias se chama Omialawure.
Grandes sacerdotes hoje são conhecidos apenas por seus Orunkós, e normalmente suas casas levam os seus nomes de iniciado, sendo que muitos poucos os conhecem por seu nome civil. Cá entre nós, esses sacerdotes estão vivos e gozando de plena saúde, mesmo com seu famoso Orunkó sendo conhecido por todos.
Cito aqui alguns Orunkós de pessoas de grande reconhecimento dentro da religião:
Íyàmagbó-Olódùmarè – Iya Nassô – Terreiro da Barroquinha (casa matriz)
Oba biyi – Mãe Aninha – Ilê Axé Opo Afonjá
Odé Kayodé – Mãe Stela – Ilê Axé Opo Afonjá
Iya Omindarewa – Mãe Gisele Cossard – Ilê Axé Atara Magbá.
ILÁ 
É a voz do Orixá, seu modo de se identificar quando está entre nós. Mas o ilá não é só isso. É a própria natureza falando, gritando, nos lembrando do que é Orixá: o espírito da natureza.
O ilá dos Orixás podem variar muito: de sons de animais, até ruídos de procedência desconhecida. Cada Orixá possui vários Ilás diferentes, e, quando permitido, o Orixá solta o Ilá que melhor o representa. Na maioria das casas de Ketu e Angola, o Orixá solta o ilá depois da queda do kelê, ou até mesmo na obrigação de 1 ano.
Abaixo uma relação generalizada dos ilás de cada Orixá (lembrando que nem todo Orixá terá o ilá citado abaixo):
Esú: pode ser um brado, ou até uma gargalhada destorcida e grossa.
Ogun: Geralmente um grito de guerra.
Oxóssi: O ilá mais comum deste Orixá é o som de um pássaro piando.
Ossain: Geralmente é um pássaro piando.
Obaluaye: Varia muito. Pode ser um grunhido muito grosso, como o som de um vulcão.
Xangô: No geral, é um brado grosso, como o som de um trovão.
Oyá: O mais comum, é o famoso "heeeeeey", ou também, não raro, pode ser um brado de guerra.
Oxumarê: Muito comum ver o sibilar de uma cobra sendo executado por este Orixá.
Yewá: O som de um pássaro, quase sempre.
Oxum: Pode ser o som de um pássaro, um grito de guerra, ou uma leve nota musical (como uma sereia)
Logun-Edé: Assim como com Oxóssi e Oxum, pode ser o piado de um pássaro, ou uma leve nota musical)
Obá: O mais comum é que seja um grito de guerra.
Nanã: Pode ser o som de água corrente, ou mesmo som do pântano (grunhido baixo e sereno)
Yemanjá: Pode ser um grito de guerra ou uma leve nota musical.
Oxaguian: O ilá mais comum de Oxaguian é o som de um pombo. Algumas vezes também vemos esse Orixá dando um grito de guerra, mas não é muito comum.
Oxalufã: O som de um pombo (geralmente mais baixo e calmo que o de Oxaguian).
Lembrando mais uma vez que esses não são os únicos ilás que esses Orixá podem dar.

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