domingo, 2 de outubro de 2016

O mais importante não é saber a qualidade de seu Orixá, o mais importante é saber qual é o seu Orixá!

 
Quando comecei frequentar como abiyan uma casa de candomblé a mais de 38 anos atrás, naquele tempo não se falava em “qualidade de Orixá” e nem sabíamos direito do que se tratava,
o mais importante para os zeladores da época, era realmente procurar o caminho pelo qual o Orixá (supostamente) se apresentava no seu jogo, era comum um zelador confrontar o jogo com o de seu Babá ou de sua Ìyá ou um outro egbon, não havia vaidade que se vê hoje em dia, a preocupação era em estar seguro e amparado pelo seu axé, por isso que naquele tempo haviam muitas saídas de Iyawos semanalmente com grande festa, hoje em dia algumas casas adotaram não fazer festa para tirar Iyawo, parece que estão tirando Iyawo escondido, às segundas-feiras, pouco se vê alguém tirando nome de Iyawo, ou tiram Iyawo sem relevância dentro de festa da Casa.

Meu zelador dizia depois que me iniciei, que eu era de Oxalá moço, Oxaguian, aquele que carrega o pilão de duas bocas como referência e uma vara chamada atorí, “santo funfun” dizia ele, e me prescrevia sempre os interditos, talvez para eu nunca esquecer, tal sua preocupação comigo.(valha-me Babá mi). 

Hoje em dia é assustador como as pessoas que ainda mal frequentam uma casa de candomblé já sabem até a qualidade de seu Orixá. É comum um simpatizante dizer que é de qualidade tal e come com tal Orixá, que jogou e o Pai ou Mãe de santo afirmou isso e aquilo que meu odú é forte, que nasci feito, etc, etc. 

Sabemos que ao pé da letra que não existe “qualidade de Orixá”, que na verdade é a mesma energia que se divide, espalhando-se, formando vários cultos, variando de acordo com sua localização, região, cultura, dando nome a cidades, lugarejos, rios, lagos, matas, são divinizados, assim , encontraremos por toda Nigéria. 

No Brasil, formou-se o panteão dos Orixás por energia regente/afinidade/culto, nasceu o termo qualidade para diferenciá-los nos seus fundamentos e até nação. 

Hoje em dia, os “novos zeladores” não preservam mais a energia do Orixá em sí como fator primordial numa consulta, parece que não basta dizer para o neófito qual o Orixá que se apresenta, o Orixá que prepondera naquele momento, o Orixá que responde no jogo, Não! Eles querem ir além,( supostamente evidentemente) dar a qualidade do Orixá, como se isso fosse possível e necessário, sinceramente vira loteria, arrisca-se um palpite em nome de Ifá. Muitas consulentes saem dessas consultas com esses “novos jogadores de búzios” na certeza ilusória de que realmente saber qual é o seu Orixá e a qualidade, podendo na grande maioria das vezes estarem completamente enganados, incorrerem num erro que pode chegar até a iniciação. Dá para imaginar tamanha irresponsabilidade?
Este neófito poderá passar a amar um suposto Orixá, estudar seu arquétipo, e ainda, seu orí irá comprar involuntariamente uma falsa verdade além de se convencer de forma categórica dessa falsa verdade. O Orí humano compra a história e muitas vezes não há como demove-lo do problema e nem convence-lo a cair ou voltar a realidade. 

Esses novos zeladores pseudos jogadores de búzios, alguns até com título de Ifá Tal… aprenderam a conversar com um Obí? Ou será que eles pensam que numa consulta através dos búzios pode-se afirmar a qualidade ou caminho de um Orixá?
O mais importante não é saber a qualidade de seu Orixá, o mais importante é saber qual é o seu Orixá! 

O caminho ou a qualidade certamente virá a posteriori, na iniciação, na apresentação do seu Orixá, na vibração de sua energia no apere.
 

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